30 janeiro 2010

Dia de mut...




Com a ida do navio "Mar d'Canal" para a doca, viajar de e para Santo Antão tem-se revelado nestes dias uma autêntica dor de cabeça. Se mesmo com o Mar d'Canal e o Ribeira de Paul juntos, as vezes a coisa não é tão folgada, imaginemos agora com centenas de pessoas a dependerem do velhinho Ribeira de Paul.

Costuma-se dizer na ilha que "dia de mut é véspera de nada". Pois bem, há relativamente pouco tempo, quando a Moura Company se tinha intrometido na área com um dos seus catamarãs,  vangloriava-me aqui com a reanata dos navios no canal. Só que a embarcação não teve estômago para o canal e depressa abandonou a corrida, desaparecendo de cena que nem lume de paia de bnênera, ne dia de vento! 

Agora é a vez do Mar d'Canal ir, uma vez mais, à doca, deixando a população dependente de um naviozinho velho, desconfortável e com muitas limitações á nível do transporte de cargas. E como a ocasião não faz apenas o ladrão, faz também o negócio, a venda de bilhetes de passagem no mercado negro é que está a dar.

Dá para imaginar o fluxo de passageiros e carga de e para Santo Antão a depender exclusivamente de um bérkin como Ribeira de Paul? 

foto: BCN

26 janeiro 2010

Cordas do Sol na Praia

Lume de Lenha e kentura no Auditório Nacional


Os 3 últimos posts publicados aqui no Sinta10 foram macabros. Mas este não é, definitivamente, o tom deste blogue, a nossa música é outra. E por falar em música, vamos lá dar um safanão no tom fúnebre dos últimos textos e falar do espectáculo do Cordas do Sol no último fim-de-semana, na Praia.

Antes de mais, o espectáculo estava marcado para as 22 horas, começou exactamente a hora marcada e já com sala cheia! Isso tem alguma coisa de especial? Sim, claro que tem, se se levarmos em conta o nosso hábito, bem cabo-verdiano, de começar a chegar aos eventos uma hora depois...


Vamos agora ao que interessa: o espectáculo foi maravilhoso, houve muita interacção entre o público e o grupo, muita descontracção, sobretudo devido ao grande sentido de humor de um dos elementos do grupo, o Arlindo Évora. O show fez-nos viajar pelo Santo Antão profundo, revisitar o quotidiano da ilha,  entranhar em cada vale ou selada e sentir o "rumor das coisas simples da minha terra", parafraseando o grande poeta Jorge Barbosa.


Cada música, cada melodia  nos transportava para uma ponta da ilha: com Zéka Brônke senti o gosto de um Lovód Nome de Deus; vi o rosto intrigado das nossas avozinhas a soltar um Kréde n'Mstér para depois sentenciar que Mund ta um perd'mênt; mas também deliciei-me com a imagem de uma panela de catxupa te rolá férva, sob as ordens de um lume dzefnód de lenha de mangueira. 

Mas, o reportório revistou também os "clássicos" do grupo. Marijoana disse presente ke sê Cónhót tervessód nó boca; É Boi fez rodar os trapiches e fez grogue para o tal Kzemênte de R'bera Riba, embora com queda d'Riba próboxe; as FAIMO voltaram às ribeiras da ilha, com txmada no ponto e tud e Mnininha fêma voltou a não ir pó bói (pelo menos ficou o conselho).


Tudo isso fez com que o Auditório Nacional Jorge Barbosa se transformasse, na noite de sábado, num autêntico enclave de Santo Antão na Praia. Depois de alguma água gelada na fervura, Cordas do Sol voltou com muita lenha na fogueira, o que quer dizer que para os próximos tempos o fumo vai continuar r'bokóde.O CD é bom, diversificado nos assuntos e nos estilos. A voz bela e forte da Seuzany trouxe outro timbre às melodias, sem dúvida. Só que, na minha opinião, o modo como se apresentou não se encaixou bem ao estilo do grupo. Ou foi mesmo propositado, uma preocupação em aliar a tradição à modernidade? Bem, está na moda!


Por último, não resisto em comparar este Lume de lenha com os trabalhos anteriores. Sente-se que Cordas do Sol procurou inovar bastante. Saiu do "folclore" estritamente santantonense e projectou um olhar mais global. Pensou nos meninos de rua, no flagelo da droga, na necessidade de libertar a Mamãe África... "suavizou" mais o dialecto santantonense e isso fez com que o grupo tenha aproximado mais do buçê.

Portanto, acho que os dois primeiros trabalhos foram mais genuínos, mais terra-terra, enquanto este tem pretensões mais globais. Nada de errado, tudo depende da estratégia ou visão que o grupo tiver traçado. Mas isto não mexe com a qualidade do trabalho. Gostei muito!



Fotos: BCN

23 janeiro 2010

Adeus, Luis Romano


O autor de "Famintos", e que nasceu na Ponta do Sol em 1922, deixa este mundo, também ele, nos inícios de 2010.

Há cerca de ano e meio, Sinta10  elegera-o como sendo um dos vultos da ilha. Passado algum tempo, chegava a notícia (falsa) de que ele tinha morrido.

Dias depois, ouvia-o numa entrevista com Jorge Guimarães, onde, apesar da débil voz trémula, falava com muito sentido de humor, da saudade da sua terra, do grogue que ainda podia "enfiar" um cálice, enfim...

Desta vez, não se trata, infelizmente, de falso alarme: morreu Luis Romano, aos 88 anos

15 janeiro 2010

Vadu e Ribeira Grande: da paixão à tragédia


O caso de Vadu é mais uma daquelas histórias de paixão que acaba em tragédia. Um jovem natural de Santiago, desenvolve uma grande paixão por Ribeira Grande e passa a visitar constantemente a ilha. Cria laços de amizade com as gentes da ilha, sobretudo com jovens das vilas da Ribeira Grande e Ponta do Sol. No campo cultural faz actuações esporádicas no espaço “Lêdera de Séntísssima” um cantinho emblemático das noites de Puvoçon, troca experiências com jovens músicos da ilha e fundem estilos em sessões informais de simples convivência.

Nas suas deslocações à ilha, busca nas montanhas, no mar (isso mesmo, no mar) e no groguin, como dizia, a inspiração para algumas das suas melodias. Compõe uma música a exaltar Ribeira Grande e apresenta-a no seu último CD Dixi Rubera. À melodia, deu o nome de “fazen Sabi” e nela diz que “esse mar, esse rotxa, esse bentu, esse groguin ta faze’n sabi”. Ainda na mesma música faz referência ao Terreiro, o centro da Vila da ribeira Grande e ponto de encontro da juventude de Puvoçon,  o que evidencia a sua perfeita integração no meio local (rapazis na Terêru ta konta storia…)
Vadu estava há quase um mês em Santo Antão. Passara a quadra festiva na Ribeira Grande e ia ser o cabeça de cartaz do festival de música integrado nas actividades alusivas à festa do município da Ribeira Grande, que é comemorada à 17 de Janeiro. Nos últimos tempos, por já levar algum tempo na ilha, essa sua preferência por Ribeira Grande era motivo de comentários vários por parte dos ribeiragrandenses que se vangloriavam pelo facto de um artista como Vadu ter migrado da Praia para a pacata Ribeira Grande, que é como quem diz, do centro para a periferia.

A paixão pela ilha das montanhas era tanta que Vadu já havia solicitado á Câmara Municipal da Ribeira Grande um terreno para construir uma “casinha” em Ponta do Sol. Foi, alias, o próprio presidente da Câmara, Orlando Delgado, quem revelou isso, numa entrevista à RCV, no dia seguinte ao fatídico acidente.
Vadu já era considerado um filho da Ribeira Grande. Não sei como terá nascido essa sua paixão por Santo Antão. Contudo, não deixa de ser curioso o facto de Zezé de Nha Reinalda, tio de Vadu, também nutrir um sentimento especial pela ilha, facto que ficou bem provado nalgumas das suas canções, como por exemplo o tema “Santanton”, do CD “Lugar pa Nos tudu”, uma composição com uma letra maravilhosa, um tributo à ilha que Zezé fez questão de repetir no mais recente disco “Dukumentu”.

As rochas e o mar que inspiraram Vadu, que fazel sabi, acabariam por ser os mesmos que o ceifariam a vida. Quis o destino que o rapazinho do Bairro Craveiro Lopes fosse perder a vida na terra que aos poucos ia adoptando, uma terra que, para lá chegar, ele teve ki salta tudu mar e rotcha tamanhu, para depois concluir: sabura kin pasa, ka ta da pa konta, Kantu um da rinkada pan bai, um ka rapendi.

 Foto: aqui

13 janeiro 2010

Acidente grave em Santo Antão



O artista Vadu, natural da ilha de Santiago, é tido como uma das vítima de um grave acidente que aconteceu na noite de ontem, terça feira, na estrada Ponta do Sol - Vila Ribeira Grande. O acidente deu-se por volta das 19h20min, na zona de Ribeira dos Órgãos (círculo na foto).
Vadu era o cabeça de cartaz para as festas do município, 17 de Janeiro.


12 janeiro 2010

Meninos da ilha




As papaeiras da infância dos meninos do campo da Ilha.

Cresci a trepá-las, quando ainda éram abundantíssimas na ilha. Apesar das cocêras na pela por causa do "leite" viscoso, apesar das constantes pancadas no kétchin d'ovo, não resistíamos a uma trepadela, mesmo que fosse apenas para mostrar a nossa perícia e agilidade, só mesmo dos gatos.

05 janeiro 2010

Posto de venda da ENACOL assaltado



Esta notícia foi a primeira que eu li nesta manhã de terça-feira (terça é terciód, como diz Nhana, minha avó). O assalto aconteceu em plena zona central da Vila da Ribeira Grande, em Sintadés.

E nós que sempre realçámos os brandos costumes de Sintadés!!! É a descentralização do crime (este então, particularmente urbano)

Créd ne m'xtêr!