16 outubro 2006

Santo Antão de outrora

As ribeiras e o camarão

Aqueles que, como eu, nasceram gósterdia, não conhecem o camarão "d'terra". Mas oiço frequentemente os mais velhos, inclusive meu pai, falar deste crustáceo aquático, muito apetecido em todo o mundo. Não que o meu pai e outros habitantes da ilha de Santo Antão estejam a falar de pratos caríssimos em restaurantes ou coisa parecida. Não, ao falarem de camarão referem-se, melancólicos, aos áureos tempos em que nas ribeiras da ilha se apanhava este bichinho aos montes. Os abundantes e permanentes caudais de água doce que outrora corriam por toda a ilha constituíam paraísos para os camarões que se reproduziam à-vontade. Então, a sua presença na ementa do santantonese era constante. Para os apanhar, de entre outras técnicas, colocava-se à tardinha balaios nas pequenas quedas de água para, no dia seguinte, recolherem-nos cheios de camarão, que vinham ao sabor das correntes.
Esta apanha desenfreada fez extinguir da nossa realidade este crutáceo de água doce e salgada, tão caro quanto apetecido. Assim, aqueles que nasceram a partir dos finais da década de 70/inícios de 80 para cá, de camarão conhecem só estórias (como eu).
Se as autoridades tivessem despertado mais cedo para a necessidade de conservação de espécies em vias de extinção...
Na minha recente passagem pela ilha ouvi dizer que foram encontrados alguns camarões algures na Ribeira de Janela. Houve quem dissesse inclusive que chegavam aos 15 centímetros. Não pude confirmar a veracidade destas notícias. E se for verdade, que fazer com tais criaturas!!!!??? (se é que ficaram vivos)

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é Benvindo!! Eu também "do Santo Antão de outrora" só conheço estórias assim como tu. Ainda diz o meu pai que 'outrora' não se comprava hortaliças (pimentos é um grande exemplo - digo isso porque sempre que ouvi falar de pimentos, foi no mercado, ao contrário de outras hortaliças que ainda tive a sorte de pelo menos conhecer a planta), quase toda gente podia produzir a sua própria manteiga ou queijo, pois a pastagem ainda era suficiente para se poder ter bovinos..., hoje em dia dá uma pena ver crianças que conhecem esses animais de fotografias, das publicidades televisivas ou mesmo dos livros escolares. Também ainda no verão passado tive a oportunidade de estar naquela ilha e a minha tristeza(a maior de todas), foi ver que hoje em dia são raras as vezes que a mandioca faz parte da ementa dos santantonenses, enfim fazendo minhas as tuas palavras, muita coisa em Santo Antão ficou lá atrás.

Um grande abraço para ti e para todos os caboverdianos!


Saudades das ilhas, saudades de mim!!!

Benvindo Chantre Neves disse...

De facto é uma tristeza ver como a mandioca está a desaparecer da ilha. Mas não só. Igualmente, o coqueiro está a sofrer este flagelo na ilha e já se vê só os troncos (que tristeza). Mas vamos pensar que virão dias melhores!